Conto: Do começo ao (não) fim. (Raisa Krazewsky)

Ela pegou seu café e debruçou-se na sacada. Observou o movimento lá embaixo na calçada, cada ponto era uma pessoa. Cada pessoa uma vida. Cada um ocupado com algo. Ela suspirou e tomou o café – argh, estava frio. Olhou para a sala ainda bagunçada pela noite anterior. Encontrou uma peça de roupa dela perto do sofá. Riu.

Eles chegaram atropelando os móveis ontem. Depois de voltarem da festa da empresa, um pouco altos, quase não aguentaram abrir a porta. Assim que conseguiram abrir, ele a encostou na parede e a beijou. Esbarraram na mesinha, no sofá, na estante. Riram. As peças de roupa voavam. Andaram com os corpos e bocas unidos até o quarto. Ele se sentou na cama. Ela parou em pé na sua frente, só estava de calcinha. Se encararam. As expressões eram bem diferentes. Eram expressões de desejos carnais. Ela se ajeitou no colo dele. Ele puxou delicadamente seu cabelo, deixando seu pescoço a mostra. Mordiscou ali. Ela arranhou suas costas e afundou as mãos no cabelo dele. Se beijaram e se entregaram ao desejo, ao movimento, ao prazer. As bocas percorreram todo o corpo, exploraram todo o território. Ao fim de tudo, nada acabou. Permaneceram unidos, ofegantes, com aquele suor de sexo. Riram mais uma vez. E adormeceram.


Quando ela acordou, encontrou a camisa dele no chão e vestiu apenas isso. Buscou café na cozinha, e se debruçou na sacada. Depois de lembrar o que aconteceu, e com um café frio na mão, voltou à cozinha para fazer café fresco. Quando pronto, decidiu voltar para a cama. Olhou para o seu marido nu, e lembrou-se de vinte anos atrás – quando casaram. Ainda sentia o mesmo amor e o mesmo desejo de sempre. O jeito como se amavam e se cuidavam – e transavam, ainda era o mesmo, como dois jovens de 19 anos, como quando se conheceram. Algumas coisas mudaram, alguns quilos chegaram, a filha que tiveram, os fios brancos que surgiram. Mas nada que afetasse o carinho, o cuidado, o amor e o sexo. Na verdade, afetou: melhorou tudo isso.

Ela se enfiou em baixo da coberta, encostou a cabeça no ombro dele, sem acordá-lo, já sabia como fazê-lo. Olhou o relógio e pensou que hoje deixaria sua filha mais tempo na casa da avó, queria a casa e o marido só para ela. Nada do que tinha começado a noite estava perto de terminar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário