Crônica: Certos do incerto


Talvez fosse muito cedo pra falar o que a gente realmente sentia. Talvez nem a gente sabia. O que você sentia, pra começar? Era sempre um mistério. Era sempre como um enigma descobrir o que você estava pensando. Eu gostava de te olhar, de imaginar que você um dia sentiria o mesmo que eu, e mesmo que, talvez eu estivesse enganada, eu gostava de pensar na gente, num futuro próximo. Um futuro incerto. Talvez a gente não começou certo. A gente sabe o que passou pra estar aqui, a gente sabe dos corações que ferimos, só pra gente ficar junto. E mesmo sem ter alguma certeza, a gente sabia que só queria estar junto. A gente queria andar junto. Eu, você e a nossa incerteza. Era tudo que a gente construiu; tudo que tínhamos era a certeza da nossa incerteza.

Desabafo de uma Coulrofóbica (Nadhia Dantas)



Me amarra em uma cadeira, me tranca em uma sala onde esteja passando o falsete da Mc Melody na TV, mas não me leve ao circo. Não me pergunte de onde originou esse medo, nem o motivo, acredito que seja porque eles são criaturas extremamente bizarras, muito mais bizarras que o meu amigo que acabou de tatuar o globo ocular. Os palhaços são perigosos, e aquela maquiagem falsiane serve para esconder o que eles mais querem: nos matar.
Já analisou o jeito que eles nos olham e nos sorriem como se fossem psicopatas? Já parou para imaginar que aquelas roupas largas e coloridas, nos faz lembrar o fim do arco-íris em que encontramos o pote de ouro, mas que na verdade encontraremos o caminho das trevas? Repare no olhar de uma criança quando um palhaço se aproxima: ela o olha fixamente, e depois de segundos, abre o berreiro. Esse é um sinal de alerta. Fiquem espertos.
A fantasia é o escudo. Por trás daquela “alegria”, há um outro tipo de energia (do mal) camuflada, e convenhamos, o palhaço tem total autonomia para fazer o que quiser com seus expectadores. “Olha lá, ele está ateando fogo no moço” “Imagina, é tudo truque, faz parte do número!”. Sabe quando tem aquela festinha de aniversário que as crianças perguntam se terá palhaço e pulam de alegria quando respondem que sim? Eu pergunto já para saber se terei condições de ir ou não. Confesso que tenho mais medo desses seres, do que ser refém de bandido quando estou tomando banho sozinha em casa. Imaginou você pelada na rua, com uma arma na cabeça? Sim, frustrante, mas ainda prefiro o “nude” fora do Snapchat, do que o Patatá diabólico.
Pensando bem, acredito que eu pratico masoquismo comigo mesma. Comprei o livro “It- A Coisa”, do Stephen King, para quem não sabe, a história é baseada no filme de terror que fez sucesso nos anos 90 sobre um palhaço que costumava matar as pessoas. Ainda não li, mas pode ter certeza que os capítulos serão “apreciados” só enquanto o sol estiver atravessando a fresta da janela refletindo na porta do quarto.
Já tentei acreditar que tudo isso não passa de uma paranoia, mas esqueço de todas as possibilidades, quando encontro um deles dançando com pernas de pau em frente às concessionárias de carros, afinal, eles tem algum tipo de pacto com essa galera? Toda inauguração tem um palhaço na frente, já repararam? Certo dia, vi vários fazendo a coreografia do aviãozinho em uma loja dessas. Dança do diabo.
Será que a pessoa que se fantasia disso, não tem pesadelo com ela mesmo? Ah! E se eu encontro a pessoa descaracterizada, a desconfiança é a mesma. Desculpa mundo! E desde criança até hoje, eu vou ao Mc Donalds, sem muito olhar para os cardápios, painéis e afins. O Ronald Mcdonald me apavora.

O dia que eu resolvi partir (Nadhia Dantas)


Leia ouvindo "Let it go" (James Bay)


Pra falar a verdade, eu não acreditava que esse dia chegaria, muito menos que eu fosse capaz de te dizer essas coisas. Você, com todas as suas dúvidas, tinha apenas uma certeza: de que eu nunca iria embora. Ninguém botou fé, nem eu. Você teve carta branca por muito tempo, muito tempo mesmo. E quer saber uma verdade? Não o culpo pelas inúmeras noites embaladas de lágrimas que passei, quando o coração age, os olhos abrem mão e se recusam a enxergar o óbvio. A verdade é que você prefere madrugadas e pessoas vazias a filmes e cafunés após o amor. As tuas indecisões ora me abriam os olhos, ora semeavam esperanças dentro de mim (quantas vezes bateu em minha porta em plena madrugada com esse sorriso que me despe toda?) Despia, verbo no passado. 

Estou indo embora.

Você fez morada aqui dentro, mas a tua casa é o mundo, e só depois que eu ACEITEI essa condição, consegui seguir. O espaço que antes você ocupava, agora é ocupado por mim mesma.

Há dez meses consigo ouvir o teu nome sem fazer uma retrospectiva dos seus beijos na minha memória. Há dez meses que eu não me importo saber da tua vida, e mesmo que eu venha a saber, só consigo te desejar amor, afinal quando encontramos a paz interior, disseminamos o bem, até para aqueles que nos proporcionaram dias nublados. 

Se um dia eu te encontrar por aí, já sei o que te dizer: muito obrigada. Você me fez perceber que posso ser muito melhor sem você. 

Sai da minha vida (Laís Happel)

Pelo amor de Deus e de todas as crenças possíveis, sai da minha vida. E leve com você todas as músicas que compartilhamos, sai e me deixe limpa.
Mas sai e não volte. Não bagunce a bagunça que estou vivendo. Leve com você os abraços não dados em noites geladas, e por favor, não lamente a minha ausência. Vá embora sem ao menos ter sido presente. Apenas vá.
É que meu coração e eu criamos e recriamos momentos só nossos, e só de imaginar teu sorriso assim de bobeira, meu coração acelera e eu sinto que vou desmoronar. Então, antes de chegar, saiba que é melhor ir embora.

Vá e pare de alimentar algo que apenas eu alimento. Esse lance de gostar é pra mim, não pra você. Cansei de tentar ser direta e de responder tudo em entrelinhas, se tu soubesse o quanto dói. E é por isso que eu digo, me deixe em paz. Tu já bagunçou muito aqui dentro. Tu já fez um estrago enorme. E foi um estrago lindo. Mas foi um estrago.
Eu estou cansada de associar todas as músicas que escuto a você. Eu não sei se deu pra reparar, mas eu não sou como as outras, e não é clichê, é verdade. Eu me apaixono até pelo teu bom dia com voz de sono, e falando a verdade, minha playlist do celular são áudios teus, que começam falando de abobora e terminam com você dizendo o nível do teu sono comparado ao meu.
É por mais esse motivo que eu falo: sai da minha vida. Leve a tua indecisão pra longe, porque de indecisa na vida, já basta eu. Mas avise se for ficar, fale. Não espere muito não.
Arrume a mala e leve tudo. Menos meu coração. 

Sinto falta de algo que eu nem sei se existe (Nadhia Dantas)



Sabe aquela bad repentina que bate no meio da tarde de um sábado ensolarado e você não entende porque raios mudou de humor? Quando a viagem dos seus sonhos para o Caribe está próxima, e ao invés de você fazer a playlist no Spotify que servirá de trilha sonora para os 15 melhores dias da sua vida, você prefere desligar o sinal do wifi para ficar no joguinho do dinossauro no Google Chrome? Se sabe do que estou falando, vem cá, puxa o puff azul que deixei no canto da sala e vamos papear, porque o negócio é mais triste que a cena de quando o Marley fica doente no filme Marley e eu, e é mais cômico que o programa Casos de Família. Vamos lá. 
De uns tempos (20 dias, para ser mais precisa) pra cá, tenho sentido falta de algo. "Ah, deve ser carência, falta de um boy" Não, estou muito bem comigo mesma, obrigada, de nada. "Ah, deve ser do brinco de argola que ela deve ter perdido" Não, nem dá tempo de sentir falta, porque ele não sai da minha orelha. "Ah, deve ser o cansaço de tanto tentar entender Balanço Patrimonial e não conseguir" Já até pensei que poderia ser isso, mas descartei. Não é material, pessoal e nem TPM, porque sei que essa resposta vem na mesma velocidade que o sinal 3G do celular vem, só que ao contrário. Se fosse chocolate, eu estocaria a geladeira com 10 barras de Milka Oreo. Se fosse TPM, eu assistiria o filme mais depressivo e em seguida o mais engraçado do Netflix, porque o meu humor faz rodízio. Se fosse tristeza, eu pegaria o bloco de notas e escreveria. Se fosse alegria, eu pegaria o bloco de notas e escreveria. Só que o enredo da novela mexicana de 20 capítulos inéditos até o momento é que: se eu soubesse o motivo desse sentimento de ausência, eu saberia supri-lo, mas não sei. 
Ele não dá sinal, não aperta a campainha da porta do apê para avisar que chegou, e que eu preciso me preparar para a sua visita, ele simplesmente chega, como um desconhecido que entra no meu quarto e mexe no box da minha série predileta. Incomoda, mas continua aqui. Ás vezes adormece, finge que morreu, mas desperta fazendo barulho e perturbando meu sono, que já não anda tão saudável. Tento deixar para lá, acreditar que é frescura, mas até na teimosia essa coisa-indefinida-que-eu-não-sei-se-é-do-gênero-feminino-ou-masculino se parece comigo, e volta. Não é falta do amor não correspondido, nem de livros. Horas de sono também não contam (e olha que eu sinto falta delas, mas disso eu tenho ciência), não é do Fred (também sinto saudade, mas isso eu também sei e ele também sabe), não é do frio, não é, não é e não é. Eu cheguei a conclusão de que sinto falta de algo que eu nem sei se existe, me entende? E se realmente não existir? O que eu faço com isso tudo?

Crônica: Me deixa sorrir enquanto tu não vens (Nayane Dal-Ri)

  
Vivo entre paixões momentâneas que de tão gostosas me fazem esquecer que há ponto final. Mesmo o começo já é o fim do passado. Você chegou meio tímido e sem avisar querendo mudar toda essa minha verdade concreta. Óbvio, eu já te queria aqui, me esperando no sofá, ouvindo Jorge Vercillo e comendo um prato de coxinhas explodindo carboidratos, mas, não queria admitir a mim mesma (muito menos a ti), vivia entre devaneios secretos, imaginando como seriam as letras se vividas ao teu lado e rindo como se não houvesse segunda- feira. 
É que na verdade, a gente faz o amor tão mundo e pouca alma, que acaba por temê- lo ao invés de querer, banaliza e desacredita sem nem ter se dado a oportunidade. Se entrega pela metade e quer o outro por inteiro. A vida é o momento, a perdemos num segundo e ainda tememos o amanhã. Ainda temos medo do que na verdade é gostoso se liga duas almas que o mesmo querem.
Solidão às vezes dói, mas, felicidade é treino, onde se exercita a alma e, se é mostrado o quanto valem simples paixões. O quanto vale todo tipo de simplicidade que como uma pergunta sem resposta eternamente, nos faz tão grandiosamente bem. Viver é uma troca e se bem feita por nós, melhor recebida pelos outros. Agora me deixa sorrir enquanto tu não vens