Crônica: Que suas partidas se tornem chegadas. (Raisa Krazewsky)

Cá estou eu. Novamente. Olhando por essas janelas. Sentindo um vazio no meu peito – pois meu coração está em sua mala. Novamente, eu lhe disse tchau. Novamente, você está levando consigo meus risos mais sinceros, meus beijos, meus abraços. Novamente, está escapando de minhas mãos o seu toque, o seu cheiro, os seus cabelos, o seu carinho. Novamente te deixo partir para quem sabe te ver novamente dentro de o quê? Uns quatro meses? “Alô, é o tempo? Passa rápido esses quatro meses, por favor?”.

Eu sei que quando eu olhar aquele avião, mais um monte de lágrimas vão cair. Sei que vou me virar e encontrar minha mãe para me abraçar – mas o abraço não é o seu. Sei que minhas amigas vão me abraçar também e me fazer rir. Mas lá no fundinho, falta você em tudo. Olho para os cantos e tento materializar você, mas só materializo lágrimas – muitas. Acho que cada lágrima minha tenta afastar de mim a saudade, mas vou te contar: a saudade não cabe em lágrimas. Nem em um milhão delas.

A verdade é que eu não quero que você vá embora nunca mais. Eu quero te convidar pra mais um café e que você fique o resto da vida inteirinha. Eu sou capaz de me desdobrar inteira pra te garantir conforto. Ah, quer saber? Se você não puder voltar, eu vou aí. Afinal, já confessamos, embaixo do seu edredom, que não aguentamos esses malditos quilômetros. Tudo o que eu quero é poder ser feliz sem intervalos

Eu quero poder rir contigo até entrar ar demais em nossos pulmões. Eu quero ouvir todas as suas piadas sobre mim, e quero que você me dê um tempo para entendê-las. Eu quero dividir, de perto, tudo o que acontecer comigo. Eu quero lhe dizer várias coisas. Dentre elas, eu posso lhe dizer que estou brava com você, que te amo, que hoje você tem que lavar a louça. Eu só não posso mais lhe dizer tchau.

Dentro de mim tem um furacão (é porque sou um pouco Alasca, lembra do livro que te falei?), um furacão que mistura meus sorrisos por sua causa e minhas lágrimas pela sua partida. E eu só sou capaz de torcer baixinho para que esta tempestade que acontece dentro de mim vá para o céu – para adiarem o seu voo e eu poder te ter pra mim por mais tempo.

Chega bem perto de mim. Vem cá, se eu sou um furacão, pode chegar com a tua garoa. O meu pequeno milagre é te ter na minha vida. Deixa eu decifrar o que ainda não sei sobre você e esboçar um teorema. Vamos registrar todos os dias 20 de abril em um diário. Eu te aprecio, moço. Tenho um plano: entra aqui na minha mochila e vamos para Nárnia.


Quando eu olho para a pista, vejo aquele avião taxiando. Acompanho com os olhos e te imagino lá dentro, olhando para baixo, segurando as lágrimas – assim como estou. Sussurro baixo que te amo, que já estou com saudades, não se preocupe, vamos ficar bem. Vejo o avião desaparecendo na imensidão de nuvens cinzas. Até logo. Fique bem, meu bem.

3 comentários:

  1. "Chega bem perto de mim. Vem cá, se eu sou um furacão, pode chegar com a tua garoa."

    Que texto mais ..... Chorosoooo!!!

    Ai caramba, essas despedidas matam qualquer ser humano!
    Mas guarde essa saudade em ti, e a faça crescer a cada dia, e quando houver o reencontro ela se transformará em amor acumulado!

    PS: o verso lá em com foir meu preferido!

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    1. Fico feliz que tenhas gostado ♥
      Saudade é um negócio tão cruel que faz chorar quando a distância é de 2km ou 20000km. Mas amor mede bem mais que isso!

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  2. Admito que chorei...
    Lindooooo, amei <3

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