Crônica: Você mudou. ( Laís Happel)






- Oi - ele disse. - Posso entrar? 
- Oi - eu disse. - pode entrar. Só não repara a bagunça. 
- Tudo bem. - ele disse. - afirmando, não em tom de pergunta. 
- Não, não tá tudo bem. Senta no sofá que um dia foi nosso, preciso te contar uma coisa. - eu disse sem saber o que estava fazendo. 
Ele poderia fazer- me calar a boca, com um beijo daqueles que dávamos no passado, presente no ontem. Mas não, ele apenas acomodou-se. 
- Fale, Anna. - Ele disse, olhando-me com um olhar irritado. Não queria irrita -lo.
- Olha, Pedro. Alguma coisa aconteceu. Hoje pela manhã coloquei para tocar a nossa música e não chorei. Não senti vontade de arrancar meu coração pulsante e joga-lo pela janela. Não senti vontade de gritar ao mundo a dor que sentira. Na verdade, eu parecia tão indolor. Procurar seu nome na lista telefônica não apertou meu coração, foi até fácil. Teu sobrenome forte pulava da folha amarelada. Discar o número que foi difícil, foi uma mistura de ansiedade e medo. Eu não sei o que aconteceu.
- Olha, Anna. Já fazem dois anos. - ele começou. 
- EU SEI PEDRO! EU SEI! Você não precisa ficar me lembrando. Se tem uma coisa que eu sei é quanto tempo faz que você foi embora. 
E olha, eu nem marquei no calendário, apenas sei.
- Não fui embora, apenas terminamos...
- Você terminou, Pedro. Qual foi? Nunca me falou o que aconteceu. Não me amava? O sexo diário não era bom o suficiente para você? Nunca fui boa o bastante? não me apresentou aos amigos do futebol, por qual motivo? - indaguei
- Por que você era boa demais. 
- Ah, sem essa Pedro. Hoje enquanto escutava a nossa ex música, percebi o que você foi pra mim. Você foi o texto não escrito, lido em trocas de olhares. Aquele livro guardado a sete chaves, pra não pegar pó e mesmo com todo cuidado do mundo, fica com as folhas amareladas, trazendo uma beleza tao minuciosa. Você foi o sussurro em noites turbulentas. O riso seguido do choro. Foi a parte boa de amar e a parte ruim em esquecer. Você foi a cantada barata, seguida de um adoro o teu cheiro de farmácia. Foi a briga seguida de reconciliação. Foi o amor virando jogo. Foi o beijo de boa noite quando resolveu partir. E volto a dizer que não sei porque te chamei aqui. - digo, aliviada.
- Anna, você me chamou aqui, para dizer que me esqueceu. 
- Será, Pedro? Mas eu não queria esquecer. - digo
- Esse é o seu diferencial, você consegue as coisas quando não procuras. - ele diz, me tomando nos braços. 
- Você mudou o perfume, Pedro? - digo
- Sim, o outro me lembrava você. 
Ficamos em silêncio, abraçados e estamos assim até agora.

3 comentários:

  1. Ha cara para, to de TPM e hoje estou sensível.... rsrs

    Lindo, me fez ir longe. <3

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  2. Você escreve muito bem. tem um estilo bacana e concisão, que eu adoro. gosto de um texto enxuto. continue assim. tens talento, na minha humilde visão. É a primeira vez que leio um texto seu. estou cativo agora. curtí.

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