Crônica: Fique tranquila, sou eu (Nadhia Dantas)

Para a minha irmã de coração

Oi pequena, mesmo depois de ter "esticado", como dizia a vovó, sempre te chamarei assim. Você sempre foi miudinha, magrinha, mas era só mexer nas suas bonecas, que a força brotava sabe-se lá da onde, e machucava. Eu, menino, que não podia revidar, te olhava com cara feia, e você na hora fazia um bico de 3 metros, como se isso fosse me dar medo. Eu caia na gargalhada e você chorava, mas depois de meia hora, me chamava para jogar Street Fighter. Isso era tão divertido. Vou te contar um segredo: na maioria das vezes, deixava você ganhar. Poxa, você era péssima no vídeo game, e eu gostava de ver você toda feliz pulando no meio da sala, se achando a tal porque tinha me "matado".

Hoje somos adultos e, pelo fato de morarmos sozinhos, sinto falta da nossa pré-adolescência, época que eu dormia na tua casa para ficarmos contando histórias de terror até de madrugada, e o tio ficava bravo toda vez que esquecíamos o computador ligado antes de dormir. Crescemos juntos, com as nossas dúvidas e certezas. Trocou tantas vezes de sonhos, não é mesmo? Me lembro muito bem quando você dizia para toda a família, que a sua maior vontade era ser professora de balé (dançava muito bem, aliás, por quê parou?), depois queria ser veterinária, criar uma ONG de cachorros abandonados (isso eu sei que ainda quer), e hoje é administradora de empresas. Você se tornou tão independente, nem parece a menina indefesa que chegou um dia do colégio, totalmente indecisa, pois não sabia se aceitava ou não o convite para ir ao cinema com o carinha da Rua Três. "Gui, ele é muito bonito, não vou saber me comportar, não vou saber o que dizer, não sei se quero ir, me ajuda!", e eu novamente começava aquele discurso manjado "Clara, você é linda, inteligente, divertida, ele vai te adorar" (de uns tempos para cá, comecei a achar que você fazia isso de propósito, só para ouvir meus elogios rs). Você foi e voltou me agradecendo, dizendo que foi o encontro mais fantástico de toda a sua vida, que ele era um fofo, engraçado e que carregou a sua bolsa o passeio todo. A amizade de vocês é de invejar, e de dar ciúmes também, mas sei que serei o seu melhor amigo forever e que ninguém tomará o meu posto.

Quem te vê cheia de certezas e tomando as decisões mais duras e arriscadas no trabalho, não sabe o quão sensível é por dentro, cheia de medos, inseguranças e carente de um abraço apertado, toda vez que assiste Ps. Eu te Amo. Quando termina um relacionamento, é a que sai com os amigos, cantarola Crazy in Love no carro, mas quando coloca a cabeça no travesseiro, a trilha sonora da noite é Tears in Heaven. Isso eu sei, só eu sei, porquê não gosta de mostrar fragilidade para os outros, só para mim. Por um lado, gostaria que deixasse de ter medo de mostrar o que é, por outro sou egoísta, pois quero que eu seja o seu único confidente.

Pequena, não importa se você gosta dos piores caras, basta um amigo que te acolha quando precisar, no caso eu. Vou te acompanhar em suas viagens, suas descobertas e no teu casamento (serei o padrinho mais sexy da família, não adianta você falar que não, entrarei com uma flor na boca). Estarei nas horas em que você mais precisar de alguém que te reerga (não preciso falar, você sente). Queria tanto que estivesse aqui em Londres, curtindo a cidade aqui comigo, é tudo tão a tua cara. E pode deixar que levarei o casaco que me pediu e, junto com ele, o meu abraço repleto de saudade.

Com carinho, 

Seu primo, Gui.